João Tabarra: No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho

(Original: Sandra Vieira, «O caminho sem fim», João Tabarra: No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Coimbra, 2003).

Afirmar que se está no meio do caminho e não no princípio, como se esperaria neste início, representa certamente uma forma de distanciamento em relação à trajectória e estrutura que se cumprem muito linearmente a partir de um começo até um fim. Mas representa também um afastamento perante as coordenadas que normalmente usamos para traduzir o sentido de progresso no espaço e de desenvolvimento na estrutura da narrativa.

Podendo a etapa do meio ser a menos gloriosa do itinerário, porque não se associa ao entusiasmo e prova de iniciativa da parte inicial, nem à euforia que acompanha a etapa final, ela não deixa de evocar  um valor próprio, captado no provérbio que diz que “no meio está a virtude”. Como ponto equidistante dos pólos, ele tanto pode funcionar como uma instância de articulação entre os pontos de partida e chegada, como um local privilegiado de observação.

Todavia, no sentido de intensificar a nossa controlada situação instável, optemos por assumir uma definição peculiar de meio: não tanto um ponto de equilíbrio entre dois extremos, mas sobretudo um pólo e campo abalado por múltiplas tensões. Estamos a falar de um lugar, onde à semelhança da instalação de João Tabarra, Protecção (2003), as pedras irrompem e se interpõem ao olhar que cobre uma clareira junto a um bosque; e, mesmo, de um espaço onde os obstáculos se manifestam sem cessar e de diferentes formas (Barricades Improvisées, 2001 e Bleu, 2002). Tudo isto sem que se produza um desvio à normalidade e a passividade se instale perante as dinâmicas que oferecem ameaça e oposição (Mute Control, 2000 e Defense, trois mouvements I, II, III, 2001). Afinal todas elas são circunstâncias que fazem parte do processo e por isso mesmo se expõem como desafios a superar (This is not a drill (No pain no gain), 1999), o mesmo acontecendo com as dúvidas e interrogações que sempre surgem ao longo de qualquer caminho, tornando evidente a necessidade de aferir o sentido da acção que se exerce (série What type of contestation are we asking for?, 1997-1998) e de viver ao arrepio das afirmações consagradas, e do temor de não encontrar respostas definitivas.  (…)

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